Recebemos ontem, 16, uma carta na caixa de Correios, não identificada, de um morador de Ilhabela expressando seu desabafo em resposta a tudo que temos discutido aqui no Facebook. Achamos de extrema importância que todos leiam e tomem, por exemplo, a postura desse cidadão anônimo.
“O FEUDO – Ilhabela ou Maembipe?"
Ilhabela, um dos principais destinos turísticos do país, visitada por milhares de pessoas todos os anos, freqüentada pela alta sociedade paulistana, líder em preservação ambiental, cidade aonde encontramos a maior área de mata atlântica preservada, praias paradisíacas, hotéis luxuosos, restaurantes maravilhosos e etc. Hoje em dia passa também por um transtorno, por uma situação que só envergonha aos moradores, cidadãos e eleitores do arquipélago.
Nossa administração está completamente perdida, desfigurando a ilha e se portando de uma forma arcaica, absoluta, digna do antigo regime quando os reis e rainhas se baseavam em obras como “O Príncipe” de Maquiavel. Ser amado e ser temido, como a rainha de copas da Alice de Lewis Carrol. O problema está quando o governante deixa de ser amado e somente é temido. Isso que eu vejo hoje na cidade. Ninguém quer se comprometer, ninguém pode se pronunciar, o medo da retaliação é enorme. Ser perseguido, precisar de algo da administração e ser acusado de traidor ou de opositor.
Calma, calma, calma não é por aí. O poder PÚBLICO existe para servir o POVO. Democracia – “Democracia, governo do povo, de todos os cidadãos, ou seja, de todos aqueles que gozam dos direitos de cidadania, se distingue da monarquia (governo de um só) e da aristocracia (governo de poucos).” Teoria clássica Aristotélica – definição essa tirada do Dicionário de Política da Editora UnB – autores: Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, que por sinal deveria ser o livro de cabeceira de qualquer indivíduo que venha querer exercer esta função pública que é a do político. Mas como estamos no Brasil isso soa como uma piada ou uma utopia.
Na verdade TEMOS o direito e DEVER de apoiar ou criticar qualquer ação dos nossos governantes. A função deles é a de servir ao povo e não aos seus interesses próprios ou a suas vaidades. Uma cidade nunca deve se sentir refém do seu próprio governo e o que está acontecendo ultimamente na ilha é um dos maiores absurdos, uma das maiores violações de ética e de princípios por parte desta administração.
A liberdade de expressão é o primeiro direito irrefutável do cidadão, é a sua arma contra a arbitrariedade e a falta de integridade dos governantes, assim como escolhemos, temos o dever de acompanhar e averiguar sempre o que está sendo feito em prol a sociedade e ao ambiente em que vivemos.
Mesmo sabendo e afirmando tudo isso, tenho MEDO de me identificar, porque tenho pelo que zelar e expor meus familiares e minha identidade por essa causa acaba por virar um jogo perigoso, sem limites de reações impensadas e irresponsáveis, como já vimos acontecer ultimamente em nosso município.
A obra de revitalização da Avenida Princesa Isabel já é uma obra que descaracteriza a ilha. Foram feitos benefícios? Pode até se dizer que sim, mas que não eram de extrema urgência e necessidade, além de ferirem com a estética e agora com o meio ambiente. Tivemos que assistir a destruição de um manguezal que demorou séculos para se formar. Foi praticamente devastado para a construção de uma ponte que sai do nada e não dá em lugar nenhum. Afinal a duplicação será até no máximo 200m adiante a região que foi derrubada, uma obra que ficou sem sentido e que gerou polêmica e insatisfação por parte da população, de ambientalistas e de qualquer um que realmente tem amor pela ilha.
As brigas, protagonizadas por pessoas públicas no carnaval, demonstram o despreparo e a falta de educação dessas pessoas que se julgam “intocáveis” por exercerem um cargo público. As ameaças, as atitudes e a linha governamental que vem sendo adotada pelo nosso representante mor, envergonham e denigrem a imagem da ilha como um todo. Terra de ninguém, na verdade terra de um só! Um feudo em que o senhor feudal cerca, explora e ameaça os seus servos. O medo, a intimação a falta de amor e de caráter. A alienação em sua maior expressão.
Todavia, a população está ficando mais atenta, mais impaciente e procurando se colocar diante de fatos tão infames quanto esses. Nós que moramos aqui sempre brincamos dizendo: - Ilhabela, se cobrir vira circo e se cercar vira hospício. Sim, eu votei na figura em questão e nunca me arrependi tanto por ter literalmente desperdiçado esse voto. Além de perder minha confiança, perdeu mais um eleitor, mais um de vários que escoam da sua mão, que saem do seu controle diariamente. Sou uma pessoa que devo mais do que muitas falar, criticar e procurar o melhor para minha família, minha cidade, meus amigos e para a micro-sociedade em que vivemos. Devo exigir que as coisas sejam feitas da melhor forma e que todas as opiniões sejam respeitadas e ouvidas.
Nós já passamos da Idade Média faz tempo, a Ilhabela era Maembipe naquele tempo. O Brasil é sim um país novo, uma democracia nova em formação, em um processo de amadurecimento e qualquer atitude que venha contra esse processo tende ser vista como um câncer, com repúdio total. Temos que respeitar e sermos respeitados nesse processo de desenvolvimento não só econômico como também do amadurecimento de nossa identidade como cidadãos brasileiros.
Espero que este texto seja visto como um “feedback” e não como uma afronta. Como um desabafo em prol de uma comunidade que está envergonhada e sofrendo muito com todo esse despreparo e amadorismo. Termino com uma frase super sábia e verdadeira: “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.” –Chico Xavier.”
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