segunda-feira, 6 de junho de 2011

EM ILHABELA, CHUVA FORTE REVELA EMBARCAÇÃO ANTIGA NA PRAIA.


                                               Crédito das fotos: Vanessa de Paula

Forte chuva revela embarcação antiga na areia da Praia dos Castelhanos

                                                                                                                
Os moradores da comunidade tradicional caiçara dos Castelhanos, localizada a leste de Ilhabela, tiveram uma grande surpresa depois da intensa chuva ocorrida no domingo de Páscoa (24/4): com a tempestade, as águas do córrego que desemboca no Canto da Lagoa levaram uma camada de areia, aprofundando em mais de um metro o trecho da praia e fazendo com que ficassem aparentes as ruínas de uma embarcação muito semelhante à estrutura de uma antiga nau.

Segundo os moradores mais antigos do arquipélago, esta embarcação já foi vista em diferentes épocas, mas o fato foi esquecido. A estrutura aparente do navio está em bom estado de conservação, porém ainda não se sabe se está inteira ou o que se vê é apenas parte dela. Uma parte da madeira tem marcas de fogo, mas não se pode afirmar que seja uma avaria devido à perfuração de bala de canhão, já que existem indícios de que moradores do local ou visitantes podem ter feito uma fogueira em cima da estrutura em outra aparição. Outra característica são as grandes pranchas de pinho de riga, uma madeira muito resistente, comumente usada na construção de naus, galeões e caravelas.

Ilhabela é muito conhecida pelas histórias de corsários e a Baía dos Castelhanos se tornou famosa por ter ficado marcada como o refúgio de piratas e ponto estratégico de navios negreiros que ainda traficavam escravos mesmo após a Abolição. Ainda não há evidências de que o navio encontrado tenha sido usado realmente por corsários uma vez que diversas embarcações, em diferentes períodos da história, transportavam escravos, bens de consumo, materiais de construção, madeira e itens de exportação, como açúcar e café.

O secretário municipal da Cultura e presidente da Fundaci (Fundação Arte e Cultura de Ilhabela), Valdir Veríssimo de Assunção, disse que já foi retirada uma amostra do material para que se descubra em que período teria sido construída a embarcação. “Após a avaliação discutiremos com a comunidade qual será a melhor forma de divulgar e preservar este patrimônio no sentido de criar um ponto de visitação turística, pois independente da datação o fato em si já é de grande valor histórico para o arquipélago”, afirmou Veríssimo.

O prefeito de Ilhabela, Antonio Luiz Colucci, afirmou que o compromisso é garantir a melhor forma de preservar este novo bem cultural. “Este fato só vem reforçar a importância histórica do município, em especial dos Castelhanos, para o turismo nacional já que o local sempre foi tema de muitas histórias e lendas sobre naufrágios e piratas”.

Datação – A arqueóloga Cintia Bendazzoli, responsável pelo Instituto Histórico e Arqueológico de Ilhabela, cadastrou o sítio arqueológico considerado inédito e está realizando o levantamento técnico para se chegar à melhor forma de preservação, se é desenterrá-la – o que exigiria um considerável investimento - ou se é mantê-la por enquanto onde está.

Os moradores do Canto da Lagoa foram orientados pela arqueóloga para que impeçam as pessoas de intervir no local, pois se trata de um bem de natureza histórica e arqueológica protegida pelas leis do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Cultural). A arqueóloga coletou a amostra do material que atualmente passa por um processo de curadoria e pela verificação da possibilidade de utilizá-la para a datação. Caso tenha qualidade para a análise de datação, a amostra deverá ser enviada pela Prefeitura para um laboratório em Miami (EUA) e o resultado revelará a idade da embarcação.

“Este não é o único sítio arqueológico encontrado em Castelhanos, há muitos outros tão importantes quanto este que estão sendo estudados no âmbito do Projeto de Gestão e Diagnóstico Arqueológico de Ilhabela, por meio do Instituto Histórico Geográfico e Arqueológico de Ilhabela (IHGAI)”, explicou a arqueóloga, que destacou o envolvimento dos moradores que solicitaram a afixação de uma placa informativa de forma a ser mais uma atração em Castelhanos valorizando ainda mais o local onde vivem.

Até então o fato estava sob sigilo enquanto os procedimentos técnicos eram feitos conforme as regras do Iphan para não incentivar um grande número de visitas prejudicando a preservação do material encontrado. Hoje as ruínas do navio estão novamente cobertas pela areia.

Castelhanos

O acesso à praia é feito apenas pelo mar ou por veículos tracionados pela trilha de 27 km. A comunidade de cerca de 200 pessoas vive até hoje de maneira bem rústica como os caiçaras de antigamente, sem água encanada e sem energia elétrica. Portanto, as fontes sobre a história da Comunidade dos Castelhanos se baseiam nos depoimentos dos moradores mais velhos, pois pouco se escreveu sobre o local e raros são os documentos oficiais do início da povoação. Os fatos ocorridos na comunidade foram transmitidos de geração a geração, porém a maior parte se perdeu.

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