sábado, 21 de janeiro de 2012

DR. PAULO CARVALHOSA - DE ILHABELA- OPINA SOBRE O ACIDENTE DO CONCORDIA

O naufrágio do Concórdia:Sexo, breguice e ambição.
A tradução para o Português do sobrenome Schiettino, do comandante do Costa – Concórdia, adernado na costa lígure, é “Discretinho”,qual seja, tudo o que não foi o oficial de Marinha Mercante.
Mas há algo do oculto que, até agora, ninguém noticiou, e que determinou a conduta covarde do Discretinho, ao abandonar o navio deixando para trás a tripulação, e o que mais grave, os passageiros, muitos dos quais idosos, que morreram apinhados perto dos passadiços dos escaleres, aguardando quem os conduzisse para a segurança dos barcos estando eles a metros da costa...
Discretinho conduziu, por diversas vezes, o Concórdia por entre escólios, afastando-se da rota predeterminada, colocando a nave e poucas centenas de metros da costa pedregosa italiana, imprudentemente, a exibir sua coragem e destreza na condução do transatlântico aos passageiros e expectadores em terra, como se o Concórdia fosse uma motocicleta, exibindo-se como um pavão irresponsável.
Tem-se por certo, porém, que na noite de sexta-feira 13, enquanto o Concórdia tinha o casco rebentado, Discretinho estava em sua suíte com uma passageira moldava, Dominica, loira, de 25 anos, que com ele jantou, para na suíte do comandante reclinar-se vindo a receber o bastão do comando... Tais deleites, de certo, não são muito condizentes com as condutas a serem observadas pela tripulação de bordo, mesmo a italiana, famosa pela fogosidade com que trata o belo sexo durante os cruzeiros, sobretudo durante uma manobra de alto risco, denunciando que Discretinho não estava na ponte ou cabina de comando... Mais: O casado Discretinho, na manobra de desvio de rota e aproximação da costa, antes de ir-se para a suíte apreciar as delícias da Moldávia, mandou a tripulação desligar os equipamentos e sensores eletrônicos de segurança de navegação, até porque ao passar pelos estreitos corredores rochosos, disparariam sem trégua os alarmes sonoros, enlouquecendo a tripulação. Ironia é que foi ao passar por entre dois escólios monumentais próximos entre si, que o bordo direito do casco do Concórdia foi aberto como uma lata de conservas pelas rochas agudas do leito marítimo lígure, enquanto simultaneamente Discretinho agarrava a popa de Dominica, a estreitar-lhe os flancos...
É aí que vem o pulo do gato, combinado nos três telefonemas que Discretinho, literalmente de cuecas na mão, trocou com o comando administrativo da companhia naval.
Aos poucos que me leem e seguiram até agora: Cruzeiros deste naipe, no inverno do Hemisfério Norte, em águas geladas, custam aos passageiros pouco mais de 300 euros, mais o que consumirem a bordo numa viagem de uma semana. O casal gastará cerca de 2000 euros, em média, no cruzeiro. Espera-se a bordo muitos idosos, gente em busca de um romance, de badalação. Drogas, álcool, sexo, comida, festas, frustração, falta de educação, de requinte, e dinheiro contado, é o que não falta a bordo. Esta é a realidade e a estratégia adotada pela Costa, visando atrair para a cidade flutuante gente de baixa renda, que sonha um dia realizar-se com o glamour idealizado de um cruzeiro em um navio cheio de tripulantes italianos belos e alegres, para assim lotar os 4.200 lugares do Concórdia...
Ora, o Concórdia está adernado num banco de areia a poucos metros da costa, lugar escolhido por Discretinho para encalhar a nave e assim, segundo disse, diminuir o custo de centenas de vidas humanas que morreriam caso viesse a afundar em alto mar, equilibrando-se precariamente na beira de um precipício de 90 metros de calado podendo, para o sumo da tragédia, abissar-se levando de roldão os corpos aprisionados no casco e tudo o que estiver em seu interior, inclusive o óleo combustível nos tanques repletos de milhares de litros, que ameaçam sair, contaminando todo o litoral...
Neste contexto, não serão de certo os 3 ou 4 milhões de euros arrecadados dos passageiros suficientes para cobrir os custos e os salários da tripulação numa viagem como esta...
Daí, interessantíssimo seria saber o que Discretinho falou e combinou nos três telefonemas com seus superiores, donos da C, enquanto Dominica se vestia.
Em seu interrogatório afirmou que “escorregou”com tripulantes oficiais, da ponte de comando, caindo miraculosamente num bote, de uma altura de cerca de 50 metros, sem se machucarem, deixando para trás o resto da tripulação e todos os passageiros.
Porque, indago sem parar. Discretinho e comparsas tripulantes não tinham motivos para abandonar o barco.
O Concórdia adernou estavelmente no banco de areia e todos, caso orientados pelos tripulantes, sairiam ordenadamente do navio e chegariam em segurança na costa próxima, muitos, de colete, até mesmo a nado.
Nem mesmo ao comandante da Guarda Costeira Falco, que lhe berrou ordens de voltar imediatamente a bordo, Discretinho obedeceu, preferindo romper com a hierarquia e se sujeitar ao processo, que de certo o condenará por homicídio culposo plúrrimo, abandono de navio, abandono de incapazes, insubordinação, dentre outros crimes, mantendo-se obstinadamente em terra, limitando-se a observar o desenrolar da catástrofe.
Porque? O que de tão forte, de tão determinante, de imperativo, levou Discretinho a se comportar assim? Covardia? De certo não. Anos antes ele se notabilizou por zarpar com o Concórdia de Mallorca em meio a mar revolto, quando todos os demais comandantes dos outros navios aportados se recusaram a fazê-lo. Era conhecido por seus comandados pela arrogância, inflexibilidade no comando, coragem, ousadia, experiência e habilidade ao navegar.
O que havia de tão importante a bordo do Concórdia, a ser retirado prioritariamente do navio, antes de qualquer mulher, criança, idoso, homens e tripulação, rompendo com a hierarquia militar naval, para ser colocado às pressas num bote pelo comandante e poucos oficiais, e salvaguardado imediatamente em terra?
A tese da covardia de Discretinho é conveniente e cômoda, pois esconde um segredo sobre algo de muito ilícito custodiado, transportado a bordo, e retirado do Concórdia antes que qualquer autoridade lá chegasse.
Será sobre essa questão que a Procuradoria da República Italiana deverá debruçar-se, o que talvez promova uma ampla investigação sobre atividades ilícitas desenvolvidas nos cruzeiros populares em navios que são verdadeiras cidades.
De qualquer modo, a três meses do centenário do naufrágio do Titanic, que marcou o fim de uma era de glamour, de privilégios de uma classe aristocrática abastadíssima, o naufrágio do Concórdia, em paralelo à decadência do sistema coorporativo-neocapitalista e possível falência da Europa, quiçá marca o fim de uma sociedade frustrada, consumista, fútil e brega, amplamente representada pelo comportamento nada discreto do comandante Schiettino, que subverteu emblematicamente todos os valores humanos diante de uma monumental tragédia, por ele provocada.
Paulo Emendabili Souza Barros De Carvalhosa –19/01/2011.

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